Sunday, November 07, 2004

Viver não dói
Definitivo, como tudo o que é simples.Nossa dor não advém das coisas vividas,mas, das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.Por que sofremos tanto por amor?O certo seria a gente não sofrer,apenas agradecer por termos conhecidouma pessoa tão bacana,que gerou em nós um sentimento intensoe que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz.Sofremos por quê?Porque automaticamente esquecemoso que foi desfrutado e passamos a sofrerpelas nossas projeções irrealizadas,por todas as cidades que gostaríamosde ter conhecido ao lado do nosso amore não conhecemos, por todos os filhos quegostaríamos de ter tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silênciosque gostaríamos de ter compartilhado,e não compartilhamos.Por todos os beijos cancelados,pela eternidade.Sofremos não porque nosso trabalho é desgastantee paga pouco, mas por todas as horas livresque deixamos de ter para ir ao cinema,para conversar com um amigo,para nadar, para namorar.Sofremos não porque nossa mãeé impaciente conosco,mas por todos os momentos em quepoderíamos estar confidenciando a elanossas mais profundas angústiasse ela estivesse interessadaem nos compreender.Sofremos não porque nosso time perdeu,mas pela euforia sufocada.Sofremos não porque envelhecemos,mas porque o futuro está sendoconfiscado de nós, impedindo assimque mil aventuras nos aconteçam,todas aquelas com as quais sonhamos enunca chegamos a experimentar.Como aliviar a dor do que não foi vivido?A resposta é simples como um verso:Se iludindo menos e vivendo mais!!!A cada dia que vivo,mais me convenço de que odesperdício da vidaestá no amor que não damos,nas forças que não usamos,na prudência egoísta que nada arrisca,e que, esquivando-se do sofrimento,perdemos também a felicidade.A dor é inevitável.O sofrimento é opcional....
Carlos Drummond de Andrade
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
É sempre bom lembrar
Que o ar sombrio de um rosto
Está cheio de um ar vazio
Vazio daquilo que no ar do copo
Ocupa um lugar
É sempre bom lembrar
Guardar de cor
Que o ar vazio de um rosto sombrio
Está cheio de dor
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar
Que o ar no copo ocupa o lugar do vinho
Que o vinho busca ocupar o lugar da dor
Que a dor ocupa a metade da verdade
A verdadeira natureza interior
Uma metade cheia, uma metade vazia
Uma metade tristeza, uma metade alegria
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar

Gilberto Gil

Thursday, November 04, 2004

Defensa de la alegría


Defender la alegría como una trinchera
defenderla del escándalo y la rutina
de la miseria y los miserables
de las ausencias transitorias y las definitivas

defender la alegría como un principio
defenderla del pasmo y las pesadillas
de los neutrales y de los neutrones
de las dulces infamias y los graves diagnósticos

defender la alegría como una bandera
defenderla del rayo y la melancolía
de los ingenuos y de los canallas de la retórica
y los paros cardiacos de las endemias y las academias

defender la alegría como un destino
defenderla del fuego y de los bomberos
de los suicidas y los homicidas
de las vacaciones y del agobio de la obligación de estar alegres

defender la alegría como una certeza
defenderla del óxido y la roña
de la famosa pátina del tiempo del relente
y del oportunismo de los proxenetas de la risa

defender la alegría como un derecho
defenderla de dios y del invierno
de las mayúsculas y de la muerte de los apellidos
y las lástimas del azar y también de la alegría.
Mario Benedetti
Currículum El cuento es muy sencillo usted nace contempla atribulado el rojo azul del cielo el pájaro que emigra el torpe escarabajo que su zapato aplastará valiente usted sufre reclama por comida y por costumbre por obligación llora limpio de culpas extenuado hasta que el sueño lo descalifica usted ama se transfigura y ama por una eternidad tan provisoria que hasta el orgullo se le vuelve tierno y el corazón profético se convierte en escombros usted aprende y usa lo aprendido para volverse lentamente sabio para saber que al fin el mundo es esto en su mejor momento una nostalgia en su peor momento un desamparo y siempre siempre un lío entonces usted muere.
Mario Benedetti